terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Meu Relato de Parto

Em 3 semanas descobri que estava grávida. Depois de muitos enjôos, desejos e um princípio de pneumonia que me fez ir ao hospital fazer exames. Daí em diante minha vida se transformou. Eu estava com 45 kg, doente, do lado de uma pessoa que só me fazia mal. Perdi o emprego, me separei, ganhei 20kgs e a cada ultra-som, a alegria de volta.

Com 40 semanas e três dias, em um domingo, a Laura resolveu que ia sair. As contrações começaram umas dez horas da noite. Pensei que ainda eram as de treinamento, que me acompanharam desde o 6º mês de gestação. Tentei dormir pra passa logo, mas acordava o tempo inteiro com aquela dorzinha chata e o mesmo programa ainda passando na TV. Conclui que devia estar vindo em intervalos pequenos de tempo, peguei um relógio e descobri que a minha soneca estava sendo interrompida de 20 em 20 minutos, exatos. Fiquei boba e feliz e entusiasmada e preocupada... tudo junto e ao mesmo tempo. Era a minha pequena chegando! Resolvi ficar quietinha e me poupar até a hora do trabalho de verdade, mas não conseguia dormir mais do que aqueles 20 minutinhos de intervalo.

A madrugada passou voando, quando vi já eram seis horas da manhã e eu não queria mais ficar sozinha, corri pra cama da minha mãe, como fazia quando era pequena. Ela perguntou se estava acontecendo alguma coisa, respondi que não quase chorando de alegria e tristeza por ainda me sentir sozinha sem poder compartilhar com alguém o que já estava acontecendo, não queria incomodar minha mãe antes do tempo.

Oito horas, a cutuquei e disse que precisava sair que já estava com contrações e não aguentava mais ficar em casa. Sabia que ainda ia demorar, mas a Dona Mary já queria me levar no médico, pra maternidade, chamar o SAMU... Falei que sabia o que estava fazendo e só queria me distrair um pouco para passar o tempo. Fomos pagar contas, ver lojas e trocar de carro (é!). Enfim, estava valendo tudo que me fizesse descansar (pelo menos a cabeça). Contrações de 10 em 10 minutos e a mãe sugeriu que já ligássemos para Doula, mas eu quis esperar enquanto estava tudo tranqüilo (sabia que a doula não gostava muito de acordar cedo). Mas acho que leu nossos pensamentos, ligou já eram dez horas. Noite anterior avisei que o tampão estava vindo e deixei um recado pela manhã avisando que vomitei de madrugada, (ÔO beleza de recado para se ler quando abre o Orkut! Mas...) era sinal de que estava chegando a hora. Combinamos de nos encontrar no supermercado perto de casa.

Duas da tarde estávamos lá, almoçando pastel de camarão, tomando suco de maracujá (para acalmar os nervos) e essas horas as contrações já estavam de 5 em 5. Voltinhas no super, comidinhas para o trabalho de parto e uma paradinha para contrações, no caixa pro desespero da mulher que nos atendia.

Já em casa o tempo passava super rápido, assistimos toda a programação de segunda-feira na Globo. Fizemos exercícios na bola, mas em frente ao computador, na internet (tanto eu quanto a doula, super nerds), esperando o momento de ir pra maternidade. Mas as contrações saíam do ritmo, vinham de 10 em 10, 5 em 5. Minha mãezinha essas horas já estava pronta na porta, com a chave na mão, batendo o pezinho e repetindo as palavras: “vamos”, “gente”, ”agora”, ”já” em todas as ordens possíveis (e impossíveis) pela gramática. Mas eu e a doula estávamos em sintonia, rindo, tranquilas, seguras, sabíamos que não estava na hora ainda.

Perto das dez horas da noite começaram a aparecer as contrações de 3 em 3, mas que sumiam... então para o bem de todos e felicidade geral da nação (leia-se: minha mãe) combinamos de ir na maternidade dar uma verificada na dilatação, batimentos do bebê, pressão e tudo mais. E se ainda não estivesse na hora iríamos ao shopping. Pronto. Nos maquiamos belas para chegarmos maravilhosas no Hospital Universitário (vai que o médico é gato... já arrumava um pai com ensino superior). Acabou a novela e saímos.

No carro tudo tranqüilo a 300km/hr (uma vovó desesperada no volante). Chegamos, mas só poderia entrar uma pessoa comigo. Mãe/Vovó e Doula se revezaram pra ficar lá. Estava só com 5cm de dilatação, mas não deixaram mais sair. Fui fazer alguns exames, um último de HIV que estava faltando e outro que precisava ficar deitada com um trambolho na barriga, sem mexer, só apertando um botãozinho a cada contração, uma delícia de tortura japonesa. Minhas companheirinhas do revezamento 2x2 tinham sumido, problemas na recepção...

De repente chega a Doula, nos arrumamos pra entrar na área isolada para trabalho de parto: touca(?), avental (?), pantufa (?). Tá né, com essa roupitcha chance 0 de conquistar um enfermeiro e -0,1 de arrumar um médico. Já devia ser meia noite, fomos colocar em prática tudo que sabíamos sobre como fazer (ajudar) um bebê nascer. A equipe que estava de plantão aquela noite foi maravilhosa, deixou a luz do quarto bem baixa e foi dormir em outra sala reservada (rs) mas achamos ótimo pois tomamos conta do lugar. A Laura foi a única que resolveu nascer aquela hora daquele dia. Estávamos só eu ela e a Doula.

Caminhei pelo corredor que quase furei, era o único que tinha. Ia e voltava 300 vezes a cada contração, ajudava a aliviar. Conversamos bastante para distrair do tempo que não passava (tinha um relógio pendurado bem na minha frente), tentei descansar algumas vezes e aproveitei muito todos os “brinquedos” que tinham. Porque o H.U. para quem não sabe é praticamente a Disneylândia das barrigudas prestes a parir: tem cavalinho, bola, umas cadeiras bem loucas, almofadas divinas que eu me jogava e até esquecia da dorzinha amiga e o chuveiro... ah! O chuveiro, como eu amei ele. Só quem entra em TP pode saber o que é ir para a Partolândia em um chuveiro quentinho (ou banheira pra quem é mais chique). A sensação é indescritível, melhor do que tudo que já experimentei (e não é pouco). Dava toda a vida que tive antes daquele momento para ficar ali mesmo. Sinto muito pelos homens, que nunca saberão o que é isso.

Nem sei quanto tempo fiquei lá, mas pareceu uma eternidade maravilhosa. Quando saí não queria mais colocar as roupas. A doula corria atrás de mim e ia enfiando meus bracinhos no avental pra eu não sair peladona pelo corredor. E eu nem aí, já toda descabelada, molhada, pelada e cansada também. Eram umas cinco horas da manhã e nada da Laura. Veio uma enfermeira ver a dilatação, 8cm. Devia ter ficado mais tempo em casa. Os últimos 2cms foram “rápidos” comparados com os primeiros.

Umas seis horas o “bicho começou a pegar”. Começou a parte expulsiva do negócio. Minha barriga queria sair sozinha, ganhou vida própria de vez. As contrações mudaram, passaram a vir como ondas fortes que puxavam/empurravam pra baixo. Não estava esperando por aquilo e fiquei com medo. Achava que estava preparada pra tudo, mas não sabia como ia ser na prática. Me pediram pra fazer força quando a contração viesse. A doula me lembrou de vocalizar (praticamente um gemido em ‘A’ foi o que eu fiz). Não estava mais afim de brincar de ganhar bebê.

Pedi ajuda pra ela quase chorando (me segurei): “Tiiiiiiira ela daquiii!” Qu me acalmou dizendo: “Mari, a gente já passou todas as fases, só falta o chefão” (como no vídeo game, na minha cabeça vinha o Super Mario combatendo aquela tartaruga gigante). Então me distraía, dava umas risadinhas chorosas e vinha outra contração. Eu pensava que não ia conseguir se ficasse pior (não era a dor, era o medo). E de novo vinha ela toda calma: “Mari lembra que eu disse, quando achar que não aguenta mais é porque está acabando!”. Me fortaleci de novo. Veio uma enfermeira me dar gotinhas de glicose embaixo da língua para recuperar energias, estava sem comer a muito tempo. Conferiu a dilatação e avisou que já estava coroando, que tínhamos que ir pra sala de parto. Eu queria ficar mais um pouquinho por ali e ela perguntou se era pra minha filha nascer no corredor, porque a cabeça já estava saindo (a delicada!). Então fui rapidinho.

Sentei na cadeira de cócoras e veio uma contração, fiz força e nada. Fiquei tentando arrumar uma posição melhor, mas as contrações pararam. Fiquei nervosa de novo. Disseram pra colocar a mão que iria sentir o cabelinho e olhar pelo vidro na minha frente que iria ver o reflexo dela saindo, mas eu só pensava e dizia: “Por favor, só tira ela daqui. Tô exauta, me ajuda”. A enfermeira ficou tentando estimular a contração mexendo na minha barriga, e então voltou.

Puxei todo o ar que meu pulmão podia (agora sem ser pressionado pelo útero) e quando ela veio fiz toda a força que pude também, mas não deu. Não senti vir mais nenhuma, mas tinha que fazer força, ela tinha que sair. Busquei o restinho de energia que tinha, fiz menos força do que na primeira mas senti a bolsa romper e me molhar quentinho. Ouvi um gemidinho que vinha só de uma cabecinha pra fora. Não acreditei, fiquei impressionada com aquilo e perguntei se era ela chorando. Fiquei radiante! Achei que tinha acabado, mas faltava o corpinho que uma amável estudante (ou recém formada) estava “tentando me ajudar” a colocar pra fora. Ela não sabia nem o que estava fazendo e na verdade mais atrapalhou do ajudou no MEU trabalho. O médico que acompanhava mostrou como fazer, com toda paciência de professor do mundo. Minha perereca já tava virada numa sala de aula. E então a Laura nasceu.

6:15, com 3,415kg, 50,5cm, mais de uma volta de cordão, limpinha apesar do mecônio e só sujinha de sangue do pescoço pra cima. Colocaram no meu colo e ali namorei interminavelmente cada detalhe dela ignorando tudo o que estava acontecendo ao nosso redor. Ela quietinha, não chorou até a hora que começaram a limpar e cortaram o cordão. A primeira coisa que fiz foi sentir o cheirinho de vida no hálito dela. Falei pra ela: “Filha, a vida vai ser difícil, mas a mãe sempre vai estar aqui contigo tá. Nós vamos ser muito felizes!”. Antes de pegarem ela para lavar e tudo mais que fazem com os pobrezinhos quando nascem, aí começou o berreiro de verdade. Pedi que a doula fosse atrás cuidar dela pra mim (pelámordedeus) e lá foram.

Fiquei eu e a amável estudante. Tive laceração que precisava de pontos e ela os faria... Deu anestesia local e fez o “serviço”. Chamou o médico que olhou e fez um sinal de negativo com a cabeça. Disse que estava TUDO errado. ¬¬’ (oi amigo, eu tô aqui, vendo e ouvindo! Não me apavora!) Cortou todos os pontos, começou a refazer e passou pra bonita terminar. Me senti um saco de batatas. A anestesia já tinha passado fazia tempo, mas eu nem me importava mais, depois da bola de basquete passar por onde só passava uma de gude, o resto era bobagem. Mas meu pé estava bem pertinho da cabeça dela, eu poderia ter acertado!

Tudo certo, tudo terminado. Já me sentia pronta pra outra. Uma das enfermeiras que acompanhou o parto veio me cumprimentar dizendo que precisavam de mais parideiras como eu por lá e terminou com um “até ano que vem!”. Me passaram pra uma cama e fomos esperar no corredor. A Laura do meu lado, não quis mamar porque ainda estava com o estomagozinho cheio. Pedi novamente que a doula ficasse com ela (medo de alguém roubar) e dormi por umas duas horinhas, foi quando arrumaram um quarto. Na ida passei pela minha mãe que perguntou como foi e como eu estava. Eu só respondi que foi lindo e do jeito que eu queria. Fomos para um quarto, só meu (Ê). Minha mãe roubou uma das camas para ela e tivemos que ficar por ali até sexta-feira. Era para irmos embora um dia antes, mas como não deixei que uma das enfermeiras desse água para a pequeninha tive que ficar de castigo. Saí linda e maquiada assim como entrei, mas agora levando meu presentinho no colo, me sentindo mais mulher do que nunca. Essa coisinha que hoje está com mais de 10kgs (e 19 meses) me obrigou na marra a criar juízo e valorizar minha vida, me ensinou o que é amor de verdade. Desde o dia que chegou em minha vida, até hoje só me traz alegrias.

Agradeço a todos que fizeram parte desse nosso momento e que ajudaram tanto a concretizar esse sonho lindo que é a maternidade.

7 comentários:

  1. lindo relato Mari..que emoção e que força!!! um parto super demorado como esse e ainda a recem formada fazendo barbaragem na piriquita..

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  2. “Filha, a vida vai ser difícil, mas a mãe sempre vai estar aqui contigo tá. Nós vamos ser muito felizes!” realmente emocionante.. e eu te APLAUSO em PÉ... VC É UMA SUPER MÃE.. E DIGO + COM CERTEZA NÃO FOI DIFÍCIL... PQ VC É PARA ELA A MELHOR MAMY DO MUNDO..

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  3. Lindo Mari, até chorei...espero que no meu seja tranquilo também, como pareceu seu parto, ou melhor, que eu fique tranquila como vc! Bjos

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  4. Oinn que linda Mariii,já tinha ouvido voce contar dele, mas lendo assim cheio de detalhes ficou aquela invejinha branca sabe?!

    Não fizemos parte deste momento, mas sei que estamos fazendo uma pequena parte no presente de vocês! Você é uma mãe MARA que sempre que vejo vocês me faz ser melhor com meu gafanhotinho que sim, já perdi a conta de quantos meses ele tem, mas sempre será meu maior orgulho, pelo menos até o dia que eu criar coragem de ter dois maiores orguhos, rs

    Beijoos pra vcs, da Xará!

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  5. adoreiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

    Ady

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  6. Nossa chorei ... quanta força e determinação parabéns

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