domingo, 25 de dezembro de 2011

Um Natal Feliz e Novo Ano também!

Estou muito feliz e satisfeita com o Ano que passou, com toda a evolução e realizações que tivemos. Com as amizades que fizemos e com as que continuamos cultivando.  Com o crescimento e amadurecimento meu, do meu trabalho e da minha filha! 
Espero que 2012 seja ainda mais especial que este ciclo que se encerra com o ano.


A partir de hoje estaremos oficialmente em recesso! 
Para voltar - aproximadamente - dia 15 de janeiro, com muitas novidades, promoções, sorteios e com mais gente na equipe!

Desejo a tod@s um Natal Feliz e Novo Ano também!
Mariana, Mãe Dalaula
beijo beijo

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

parto normal após cesárea? sim, podemos.

publicado originalmente em 2002, na revista da associação britânica aims (association for improvements in the maternity services) com o título “vbac – on whose terms?” e republicado recentemente no blog espanhol el parto es nuestro com o título “si quieres intentar un parto vaginal después de cesárea”, o artigo abaixo (em livre tradução da cia das mães) é fundamental para informar e preparar mulheres que já passaram por uma cesárea e pretendem parir naturalmente.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Em Homenagem ao Dia da Doula (18/12 dia de Nossa Sra. do Bom Parto) Vamos Comemorar Todas Juntas !!!


O que significa “doula”
A palavra “doula” vem do grego “mulher que serve”. Nos dias de hoje, aplica-se às mulheres que dão suporte físico e emocional a outras mulheres antes, durante e após o parto.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Métodos para alivio da dor no trabalho de parto - Parte II

Há atualmente, a busca por um cuidado mais natural, menos agressivo, com menor interferência nos processos fisiológicos, e que considere o ser humano como um todo. Nesse sentido, cada vez mais se difundem as chamadas medicinas alternativas ou complementares. Vários são os motivos que levam a população a procurar esse tipo de tratamento: a possibilidade de maior comunicação, empatia e contato com o profissional; a possibilidade de uma consulta mais personalizada; a crença de que é uma terapia mais natural e com menos efeitos colaterais; a preferência pela filosofia holística desses tratamentos (no caso, acreditar na importância da mente, corpo e espírito), em oposição ao modelo mecânico e reducionista da medicina tradicional; a maior ênfase que a medicina complementar dá à nutrição, fatores emocionais e estilo de vida na manutenção da saúde, e a insatisfação com o tratamento de patologias crônicas oferecido pela medicina tradicional.



Psico-profilaxia
A "analgesia psicológica" e psico-profilaxia apresentam princípios que variam conforme a época e o autor, mas baseiam-se em preparação para o parto. Essas técnicas podem ser iniciadas durante o pré-natal. A gestante e parceiro são orientados sobre a fisiologia do trabalho de parto e parto e sobre os procedimentos de rotina no local onde vão ter o bebê. Também são treinados e praticam sobre como executar massagens e práticas de respiração e de relaxamento que ajudam no processo do nascimento. 

As vantagens deste tipo de preparação são: redução da dor, menor necessidade de drogas analgésicas e maior satisfação do casal com o parto.


Presença de acompanhante
Outro fator que comprovadamente ajuda a parturiente no momento do parto, inclusive com redução dos níveis de dor, é a presença de uma pessoa como acompanhante durante o todo o trabalho de parto. Essa pessoa pode ser escolhida pela mulher (sendo o marido, a mãe, uma amiga), ou pode ser alguém especificamente treinado para o acompanhamento do trabalho de parto (doula). A presença da doula durante o trabalho de parto foi relacionada com menor dor, menor necessidade de analgesia, menor taxa de partos operatórios e maior satisfação com o parto em ensaios clínicos randomizados.


A palavra obstetrícia é de origem latina, derivada da palavra obstetrix, originária do verbo obstare, que tem o significado de ficar-ao-lado ou em-face-de. A obstetrícia atual parece ter perdido seu objetivo de "estar ao lado" da parturiente. A formação médica não inclui o ensino da importância do apoio psicológico e afetivo aos pacientes, e o médico não aprende a lidar com eles, menos ainda com pacientes que estão com dor. Quando faltam alternativas para mitigar a dor e há pouca informação a respeito de como esse acompanhamento mais próximo poderia por si só ajudar o paciente, o médico tende a se afastar, piorando a situação. 

Embora não existam estudos a respeito, parece claro que, se o profissional que acompanha o trabalho de parto se dispõe a “estar ao lado” da parturiente e sua família, a dor, o desconforto e o medo serão menores. Mas, mesmo um profissional disposto, não substitui o(s) acompanhante(s) de escolha da mulher parturiente.


Não ficar deitada
Há muito se sabe que a gestante não deve ficar muito tempo deitada de barriga para cima. O peso do útero com o bebê aperta uma veia que passa entre a coluna e o útero e diminui a chegada de oxigênio para o feto. Muitos estudos mostram que a mulher sente menos dor (principalmente no período expulsivo) se ficar na posição que lhe for mais confortável. Durante o trabalho de parto também se acredita que a dor fica menos intensa se a mulher parturiente puder se movimentar sem ficar “presa” à cama.

Banhos
O banho de imersão comprovadamente alivia a dor, deixa a parturiente mais relaxada e diminui a necessidade de utilizar drogas analgésicas para o alívio da dor. Não tem nenhum efeito colateral importante ou contra-indicação.

Na maioria dos hospitais do Brasil não há disponibilidade de banhos de imersão. Na prática clínica observa-se que o banho de chuveiro também ajuda a aliviar a dor e relaxar a mulher em trabalho de parto.

Acupuntura 
A acupuntura é uma alternativa não farmacológicas para o alívio da dor e vêm se difundindo progressivamente no Ocidente. É uma prática terapêutica milenar originada no oriente e inserida no conjunto de conhecimentos da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e envolve a estimulação de determinados pontos na pele com agulhas. Na Europa, 12 a 19% da população relataram já ter utilizado a acupuntura, e calcula-se que mais de um milhão de americanos a utilizem anualmente. Suas propriedades vêm sendo progressivamente mais aceitas entre médicos ocidentais e em pesquisa realizada nos EUA em 1998, 51 % dos médicos referiram praticar acupuntura ou recomendar seu uso.


Especificamente para a Obstetrícia, esta técnica já foi utilizada para alívio de náuseas e vômitos, indução de trabalho de parto, versão de fetos pélvicos, alívio de dores musculares e osteoarticulares, para analgesias de cesárea, período de dilatação e parto. 

Sua utilização no trabalho de parto e parto pode aliviar a dor e diminuir a necessidade de utilizar métodos farmacológicos. Com a utilização da acupuntura, o estado de consciência da mãe não se altera, permitindo que a mesma seja participativa no parto sem interferir, posteriormente, no contato da mãe com o recém- nascido e no início precoce da amamentação. É uma técnica segura, já que a fisiologia não é modificada e, de todos os estudos consultados incluindo, ao todo, mais de mil e duzentas gestantes, não foi relatado qualquer efeito colateral importante para a mãe ou para o concepto. Complicações relacionadas à acupuntura são raras e decorrem de tratamento incorreto, insuficientes conhecimentos médicos e sobre os pontos de acupuntura, deficiência de higiene e esterilização das agulhas. Por isso, a prática da acupuntura deve ser realizada por um profissional devidamente treinado, com agulhas esterilizadas ou descartáveis.

Os pontos e técnicas de acupuntura utilizadas variam imensamente entre os autores. Não existem citações clássicas específicas para o alívio da dor no trabalho de parto e parto. Para a Medicina Tradicional Chinesa, o parto fisiológico não cursa com dor intensa, mas não temos informações suficientes para afirmar se era esperado que as mulheres experimentassem essa dor, se ela realmente não era considerada intensa ou insuportável, ou ainda se a acupuntura não era considerada eficaz para o seu alívio.

Os pontos mais citados nos trabalhos publicados são os sacrais, principalmente o Ciliao (B32), que foram utilizados pela grande maioria dos autores, em conjunto com outros pontos ou isoladamente e foram estimulados com agulhas ou com a aplicação de água destilada sub-cutânea. A utilização da técnica de acupuntura auricular conjuntamente com o restante do corpo também foi tentada e os pontos utilizados foram útero, sistema simpático e Shen Men.

Eletrodos de superfície
A aplicação dos eletrodos de superfície também se baseia na estimulação de pontos ou regiões da pele, mas através de condutores que transmitem um estímulo elétrico fraco.

Os estudos com eletrodos de superfície apresentam resultados conflitantes, sendo que alguns autores confirmam seu efeito analgésico na dor do trabalho de parto e outros afirmam que esse efeito não existe ou é apenas “placebo”. Em pesquisa realizada na UNICAMP, comprovamos a possibilidade de utilizar eletrodos de superfície pare esse fim, com a mesma eficácia que a acupuntura tradicional. Com a vantagem de não necessitar a aplicação de agulhas, por isso, tem um custo menor e um incômodo menor para a parturiente.

Massagens
Diversos tipos de massagens podem ser feitos para alívio da dor no trabalho de parto. Em pontos de acupuntura, com gelo, com compressas quentes, no períneo, com óleos aromáticos. Talvez essas pesquisas científicas sejam dificultadas pela diversidade das técnicas possíveis e pela naturalidade com que se faz massagens em uma pessoa com dor. Não há efeitos colaterais descritos.

A prática clínica mostra o grande efeito analgésico que a massagem pode proporcionar. Deve ser respeitado o desejo e a experiência pessoal de cada gestante no momento de aplicação da massagem.

Hipnose
Pode ser realizada por um profissional ou a parturiente pode aprender a se auto-hipnotizar. Mulheres que foram hipnotizadas com o objetivo de aliviar a dor no trabalho de parto referiram uma maior satisfação com o manejo da dor do que as que não utilizaram. 

Diversos
Existem diversas técnicas que podem ajudar a aliviar a dor, o desconforto, a ansiedade e o medo durante o trabalho de parto. Não há estudos científicos mostrando que essas atitudes são realmente eficazes, ou há estudos e estes não conseguiram demonstrar nenhum efeito. Mas isso não significa que, individualmente elas não funcionem, muitos obstetras e enfermeiras obstétricas orientam as parturientes a utilizar algumas dessas técnicas e com resultados bons.



Certamente, nenhuma das técnicas sugeridas tem efeitos colaterais ou complicações:
· Aromaterapia 
· Música
· Vocalização
· Homeopatia
· Preces

Farmacológicos
São assim chamados porque utilizam alguma droga, ou fármaco. Podem ser sistêmicos (que agem em todo o corpo) ou regionais (aplicados na medula vertebral, anestesiam apenas alguns lugares do corpo).

Opióides 
Método farmacológico sistêmico. É um remédio, geralmente aplicado via muscular ou endovenosa (injeção no músculo ou na veia). Muito eficazes na redução da dor, mas apresentam efeitos adversos consideráveis. Na mãe, podem causar depressão respiratória, e no recém-nascido depressão respiratória, índices de Apgar baixos e acidose. Além disso, podem dificultar a interação entre mãe e filho nas primeiras horas após o parto, comprometendo o início precoce da amamentação. Seus efeitos em longo prazo no recém-nascido ainda não estão completamente esclarecidos.

Oxido Nitroso
Método farmacológico sistêmico. No Brasil é pouco utilizada para alívio da dor no trabalho de parto. Seu efeito analgésico é pequeno (não alivia tanto a dor). No entanto, é segura e seu efeito cessa assim que a gestante deixa de inalar a droga. Grande parte das gestantes que o utilizam queixam-se de náuseas e sensação de embriaguez, o que está relacionado com o fato da mulher considerar o parto como uma “experiência desagradável”.


Analgesia peridural e bloqueio combinado raquidiano-periduralMétodo farmacológico regional. Para sua aplicação, é necessário que um médico anestesiologista esteja presente. Uma ou mais medicações são injetadas na coluna, ou em um espaço chamado peridural, ou diretamente no canal vertebral, ou em ambos. A parturiente deve ficar deitada de lado ou sentada e o procedimento de aplicação é rápido e pouco doloroso.

Atualmente são formas práticas, eficazes e relativamente seguras de dar a luz sem dor. Indubitavelmente, são os métodos mais eficazes para aliviar e até eliminar a dor. Quando a técnica utilizada é correta, o bloqueio motor é menor e permite mobilidade, participação da parturiente e puxos eficazes no período expulsivo. 

No entanto, há evidências de que os bloqueios regionais aumentam o tempo do primeiro (período de dilatação) e do segundo estágios do parto (período expulsivo), a incidência de distócias de apresentação fetal (a cabecinha do bebê encaixa na bacia de forma errada), o uso de ocitocina e o número de partos instrumentais. Discute-se o fato da utilização da analgesia peridural estar associada a maiores taxas de partos por cesárea, sendo que alguns autores encontraram associação e outros não concordam com essa afirmação. Quando se utiliza a anestesia raquidiana, pode ocorrer dor de cabeça após. Complicações graves podem ocorrer, mas são extremamente raras.

Além da recusa da mulher em utilizar o bloqueio regional, há outros motivos para não utiliza-lo no momento do parto, por exemplo, contra-indicações médicas. Também são caros e necessitam de infra-estrutura hospitalar para serem aplicados, então, limitações do local do parto e econômicas também impedem a utilização dessa técnica.

* Roxana Knobel é médica ginecologista e obstetra, atualmente reside em Florianópolis (SC). É Mestra em Medicina pela UNICAMP, com a Dissertação “Acupuntura para alívio da dor no trabalho de parto” e Doutora em tocoginecologia pela UNICAMP, com a tese “Técnicas de acupuntura para alívio da dor no trabalho de parto – ensaio clínico”.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Métodos para alivio da dor no trabalho de parto - Parte I


A dor durante o trabalho de parto é universal: parir foi e é considerado doloroso por quase todas as culturas do mundo. Em nossa cultura, predominantemente judaico-cristã, as dores no parto são vistas como um castigo de Deus a Eva e suas descendentes pelo pecado original: "Multiplicarei as dores de tua gravidez, será na dor que vais parir os teus filhos" (Gênesis, III, 16).


A hospitalização do parto, levando-o a ser considerado um evento médico-cirúrgico, e a percepção cultural de que toda dor é um sintoma de doença e deve ser suprimida, resultaram na crença de que a dor no parto é dispensável e sem valor, e deve ser curada com equipamentos e tecnologia apropriados.

No entanto, muitas mulheres demonstram o desejo de lidar com a dor no trabalho de parto e parto sem intervenções farmacológicas. Isso se deve ao desejo de pouca interferência no processo fisiológico do nascimento, de “estar no controle”, de ter escolhas, de ser encorajada a confiar no corpo para superar a barreira da dor por seu próprio ritmo natural. Também pelo medo de efeitos colaterais que possam afetar a criança, já que a mulher passa a gestação inteira sendo alertada quanto aos perigos do uso de qualquer medicação para seu filho.

Não é possível prever a intensidade da dor para cada parto. Cada mulher é única e cada parto é vivenciado de forma única. Diversos fatores podem influenciar a intensidade da dor sentida por uma parturiente, como a tensão, a ansiedade e o medo do parto, a motivação para o parto e a maternidade, a paridade (primíparas referem mais dor que multíparas), a participação de cursos de preparação para o parto, a idade da paciente, o nível sócio-econômico, o antecedente de dismenorréia (cólica menstrual), o tamanho do feto, o peso da parturiente, a hora do parto, outras experiências dolorosas vivenciadas antes do parto, a posição da parturiente durante o trabalho de parto, o uso de drogas para induzir ou aumentar as contrações uterinas, além de normas sociais que também podem influenciar o julgamento da intensidade da dor.

Mesmo quem não pretende utilizar nenhum método para alívio da dor no trabalho de parto e parto, precisa conhecer os disponíveis. Em algumas situações pode haver necessidade e, conhecendo as alternativas, pode-se participar da escolha do método. 

Para escolher os métodos analgésicos que podem ser utilizados, devem ser considerados riscos, benefícios e também o desejo da parturiente. Lembrando que um alívio total da dor não necessariamente implica em uma experiência de parto mais satisfatória. O importante é que a parturiente se sinta segura e confortável. Conversar com a equipe de assistência e incluir os métodos de preferência e os que NÃO deseja utilizar no “plano de parto” é essencial. 

Pensando no conforto, mais que no alívio da dor em si, inicio com algumas “dicas”para as parturientes. Essas dicas são baseadas em um texto da internet (infelizmente perdi a referência) e na prática de acompanhar gestantes. A seguir, apresento as técnicas não farmacológicas mais estudadas de maneira “científica” com alguns comentários e, finalmente, comento as técnicas farmacológicas.

30 medidas para o conforto durante o trabalho de parto:
A parturiente pode tentar todas as que quiser. Certifique-se de sentir-se confortável. O que propicia uma deliciosa sensação de alívio para uma mulher pode não servir para outra. E, com o avanço da dilatação, o que antes parecia confortável torna-se incômodo. Tanto a mulher quanto seus acompanhantes devem estar prontos para ir mudando as técnicas.



Ambiente: 
· Pouca luz
· Som “pacífico” (parecem ser melhores os sons da natureza (como pássaros, água correndo, ondas), mas os naturais mesmo, não gerados por sintetizador).
· Privacidade (em alguns locais isso é um pouco difícil, mas pode ser conseguido com um “isolamento” com cortinas improvisadas com lençóis, por exemplo.
· Aconchego
· Música

Físico:
· Caminhar
· Balançar a pelve
· Deitar sobre travesseiros
· Dançar “música lenta” com o parceiro
· Sentar na “bola de parto”
· Levantar o abdômen

Toque:
· Massagem
· Tapinhas no local da dor
· Afagar/ acariciar
· Contrapressão na região lombar
· Do-in

Calor:
· Banho de banheira
· Banho de chuveiro 
· Compressas quentes

Frio: 
· Compressas frias
· Tecido frio para colocar no rosto

Cognitivo: 
· Visualização
· Afirmação
· Atenção na própria respiração
· Padrões de respiração
· Não focar a atenção em nada (atenção a todos os sons, cheiros, sensações táteis sem focar)
· Rezar

Outros:
· Aromaterapia
· Cromoterapia 
· Vocalização 
· Acompanhante ao parto

Técnicas:
Não Farmacológicas
São técnicas que não utilizam remédios ou drogas. O alívio da dor que proporcionam é menor do que o obtido com as técnicas farmacológicas, mas, geralmente, não tem contra-indicações ou efeitos colaterais.

Parte 2


fonte: ONG Amigas do Parto

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Relato de Amamentação

Venho deixar meu relato de amamentação e me colocar a disposição a quem precisar de ajuda. Esse relato era pra ter sido postado na Semana Mundial de Aleitamento Materno. Simplesmente ficou aqui estacionado no rascunho e acabo de encontrá-lo.




Minha filha nasceu a 1 ano e 7 meses, de um Parto Natural no Hospital Universitário de Florianópolis, na manhã de uma terça feira. Nasceu e não quis mamar, como aconselham que faça. Mas acredito que tenha mamado na primeira hora pelo menos. Não lembro direito pois dormi logo depois do parto, pela exaustão das mais de 30hrs acordada. Lembro de uma enfermeira me acordar e 'encaixá-la' no meu peito, mas dormi novamente. 

Depois no quarto assim ela continuou, sem querer muito saber de mamar. Alguém me avisou que poderia ser assim pois os bebês já nascem de estômagozinho cheio - de líquido! Mamam por instinto no começo, não por fome. Laura mamava, mas pouco. Pra mim, o suficiente. E acredito que pra ela também pois estava sempre quietinha e satisfeita da vida. Dormiu praticamente a primeira noite toda. Acordou com o sol e quis mamar. Meu peito estava rachado, com sangue. E eu sentia Muita cólica - a contração do útero voltando ao lugar dele. Pedia remédio todo tempo -  o que hoje com informação, não indico - mesmo assim dava mamá e estranhamente eu gostava!

                     

Na segunda noite - em uma das milhares de vezes que vieram mexer na minha bebê - a enfermeira mediu a temperatura, disse que ela estava desidratando e saiu. Voltou com um copinho cheio de água e já foi indo dar para pequeninha. Impedi e disse que não queria que desse nada. Ela se indignou com o meu 'intrometimento' e brava saiu resmungando, dizendo que iria anotar no nosso prontuário, chamaria o pediatra e que se ela não desse aquela hora ele daria no dia seguinte. Eu ri (minha mãe e eu fizemos uma piadinha, pois ficou parecendo a época de colégio em que a professora dava anotação na agenda e deixava de castigo). 

Nessa hora liguei para a  doula que me acompanhou pra ter uma luz sobre minha atitude, se estava certa ou errada. E ela confirmou que não era para dar nada, que o bebê só precisaria do meu leite e ponto. Mas que era pra dar mais mamá. Desliguei e liguei para minha tia em Belo Horizonte que trabalhava em um Banco de Leite. Ela ensinou várias 'técnicas' para fazer o bebê mamar mais. E assim passamos a madrugada inteira, testando e treinando todas as tais técnicas. Tirei toda a roupinha da Laura, deixei só no contato pele com pele. Fiz cócegas no pézinho entre outras maluquices. O que importou mesmo foi que ela mamou sem parar!

Na manhã seguinte, quando seríamos liberadas o pediatra veio, como disse a louca enfermeira. Examinou a filha e constatou que não tinha nada de errado com ela, mas pela malcriação da madrugada tivemos de ficar mais um dia na maternidade. E passamo o dia super bem, recebemos visitas, o que ainda me constrangia na hora de amamentar. Ainda era estranho pra mim ficar de peito de fora assim na frente de todos... porque também recebíamos visitas de pessoas estranhas (estudantes de medicina). Mas tentei ser a mais natural possível. Fingia - até pra mim mesma - que tinha feito isso minha vida inteira (acho que acabei acreditando).

No terceiro dia de internação levantei super cedo me arrumei, arrumei a Laura e fiquei sentadinha na cama esperando a alta. Saímos antes do meio-dia e já em casa pensei que tudo seria mais fácil, mas foi quando o leite desceu. Uma me falava bota água quente, outra me falava bota água fria e outra ainda nem nada me falava... Fui para o banho quente e o leite espirrava e eu pensando: "ufa, tá saindo". Mas que nada ele enchia ainda mais, endurecido, doía muito. Então passei para as compressas de água fria... (já que quente não deu certo) E 'AAi que alívio que deu'. Na hora da compressa nem sentia mais nenhuma dor. Peguei várias fraldas de pano, coloquei no colo e ali fiquei tirando todo o excesso de leite com a mão mesmo... encharcava a fralda, trocava, e voltava a tirar mais um pouco. E ia oferecendo o peito pra Laurinha, que ainda não era uma super mamadora profissional! E como era gostoso colocar a Laura pra mamar e sentir o peito - Super Cheio - esvaziando... devagarinho...

A primeira semana pude me dar ao luxo de fica o dia todo só na cama aninhada a filhotinha. Ficávamos praticamente sem roupa, laura grudada em mim, achando que ainda não tinha nascido e eu com os peito de fora, e assim ficávamos só comendo e dormindo! Minha mãe ficou conosco e me ajudou em tudo que eu precisava então minha única preocupação foi aprender e ensinar a laurinha a pegar o peito. Acredito que esse tempo e dedicação da minha mãe foi necessário para Nossa Simbiose e sucesso na Amamentação (por isso hoje esse contato inicial mãe-bebê é uma das minhas preocupações como doula)! O uso do sling também foi um grande facilitador pra formação desse nosso vínculo.

Mamando na festa de primeiro aninho
Como disse inicialmente hoje minha pequena tá grandona - praticamente só de mamá - com 1a e 7 meses. Durante todo esse tempo tivemos algumas (várias) dificuldades, como uma mastite aos 3 meses quando tentei voltar a trabalhar entre outras coisas. A Laura mamou exclusivamente no peito por mais de 6 meses o que pra nós foi completamente natural... No 'mesversário' de 6 meses ela ganhou uma bananinha na mão e curtiu bastante... Mas foi muito aos poucos que aceitou comida mesmo. Ela é super fortinha e saudável! Hoje confio muito no meu instinto pois é o meu melhor conselheiro sempre - desde o parto, a amamentação e também na criação da filha. Toda mãe deveria fazer o possível pra também ouví-lo. E se empoderar! Somos Mamíferas e nada é mais natural do que amamentar!

Foto desse final de semana passado, no Encontro Mães de Florianópolis, Laura 1 a e 7m, mamando (por incrível que pareça pela posição!)

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Meu Relato de Parto

Em 3 semanas descobri que estava grávida. Depois de muitos enjôos, desejos e um princípio de pneumonia que me fez ir ao hospital fazer exames. Daí em diante minha vida se transformou. Eu estava com 45 kg, doente, do lado de uma pessoa que só me fazia mal. Perdi o emprego, me separei, ganhei 20kgs e a cada ultra-som, a alegria de volta.

Com 40 semanas e três dias, em um domingo, a Laura resolveu que ia sair. As contrações começaram umas dez horas da noite. Pensei que ainda eram as de treinamento, que me acompanharam desde o 6º mês de gestação. Tentei dormir pra passa logo, mas acordava o tempo inteiro com aquela dorzinha chata e o mesmo programa ainda passando na TV. Conclui que devia estar vindo em intervalos pequenos de tempo, peguei um relógio e descobri que a minha soneca estava sendo interrompida de 20 em 20 minutos, exatos. Fiquei boba e feliz e entusiasmada e preocupada... tudo junto e ao mesmo tempo. Era a minha pequena chegando! Resolvi ficar quietinha e me poupar até a hora do trabalho de verdade, mas não conseguia dormir mais do que aqueles 20 minutinhos de intervalo.

A madrugada passou voando, quando vi já eram seis horas da manhã e eu não queria mais ficar sozinha, corri pra cama da minha mãe, como fazia quando era pequena. Ela perguntou se estava acontecendo alguma coisa, respondi que não quase chorando de alegria e tristeza por ainda me sentir sozinha sem poder compartilhar com alguém o que já estava acontecendo, não queria incomodar minha mãe antes do tempo.

Oito horas, a cutuquei e disse que precisava sair que já estava com contrações e não aguentava mais ficar em casa. Sabia que ainda ia demorar, mas a Dona Mary já queria me levar no médico, pra maternidade, chamar o SAMU... Falei que sabia o que estava fazendo e só queria me distrair um pouco para passar o tempo. Fomos pagar contas, ver lojas e trocar de carro (é!). Enfim, estava valendo tudo que me fizesse descansar (pelo menos a cabeça). Contrações de 10 em 10 minutos e a mãe sugeriu que já ligássemos para Doula, mas eu quis esperar enquanto estava tudo tranqüilo (sabia que a doula não gostava muito de acordar cedo). Mas acho que leu nossos pensamentos, ligou já eram dez horas. Noite anterior avisei que o tampão estava vindo e deixei um recado pela manhã avisando que vomitei de madrugada, (ÔO beleza de recado para se ler quando abre o Orkut! Mas...) era sinal de que estava chegando a hora. Combinamos de nos encontrar no supermercado perto de casa.

Duas da tarde estávamos lá, almoçando pastel de camarão, tomando suco de maracujá (para acalmar os nervos) e essas horas as contrações já estavam de 5 em 5. Voltinhas no super, comidinhas para o trabalho de parto e uma paradinha para contrações, no caixa pro desespero da mulher que nos atendia.

Já em casa o tempo passava super rápido, assistimos toda a programação de segunda-feira na Globo. Fizemos exercícios na bola, mas em frente ao computador, na internet (tanto eu quanto a doula, super nerds), esperando o momento de ir pra maternidade. Mas as contrações saíam do ritmo, vinham de 10 em 10, 5 em 5. Minha mãezinha essas horas já estava pronta na porta, com a chave na mão, batendo o pezinho e repetindo as palavras: “vamos”, “gente”, ”agora”, ”já” em todas as ordens possíveis (e impossíveis) pela gramática. Mas eu e a doula estávamos em sintonia, rindo, tranquilas, seguras, sabíamos que não estava na hora ainda.

Perto das dez horas da noite começaram a aparecer as contrações de 3 em 3, mas que sumiam... então para o bem de todos e felicidade geral da nação (leia-se: minha mãe) combinamos de ir na maternidade dar uma verificada na dilatação, batimentos do bebê, pressão e tudo mais. E se ainda não estivesse na hora iríamos ao shopping. Pronto. Nos maquiamos belas para chegarmos maravilhosas no Hospital Universitário (vai que o médico é gato... já arrumava um pai com ensino superior). Acabou a novela e saímos.

No carro tudo tranqüilo a 300km/hr (uma vovó desesperada no volante). Chegamos, mas só poderia entrar uma pessoa comigo. Mãe/Vovó e Doula se revezaram pra ficar lá. Estava só com 5cm de dilatação, mas não deixaram mais sair. Fui fazer alguns exames, um último de HIV que estava faltando e outro que precisava ficar deitada com um trambolho na barriga, sem mexer, só apertando um botãozinho a cada contração, uma delícia de tortura japonesa. Minhas companheirinhas do revezamento 2x2 tinham sumido, problemas na recepção...

De repente chega a Doula, nos arrumamos pra entrar na área isolada para trabalho de parto: touca(?), avental (?), pantufa (?). Tá né, com essa roupitcha chance 0 de conquistar um enfermeiro e -0,1 de arrumar um médico. Já devia ser meia noite, fomos colocar em prática tudo que sabíamos sobre como fazer (ajudar) um bebê nascer. A equipe que estava de plantão aquela noite foi maravilhosa, deixou a luz do quarto bem baixa e foi dormir em outra sala reservada (rs) mas achamos ótimo pois tomamos conta do lugar. A Laura foi a única que resolveu nascer aquela hora daquele dia. Estávamos só eu ela e a Doula.

Caminhei pelo corredor que quase furei, era o único que tinha. Ia e voltava 300 vezes a cada contração, ajudava a aliviar. Conversamos bastante para distrair do tempo que não passava (tinha um relógio pendurado bem na minha frente), tentei descansar algumas vezes e aproveitei muito todos os “brinquedos” que tinham. Porque o H.U. para quem não sabe é praticamente a Disneylândia das barrigudas prestes a parir: tem cavalinho, bola, umas cadeiras bem loucas, almofadas divinas que eu me jogava e até esquecia da dorzinha amiga e o chuveiro... ah! O chuveiro, como eu amei ele. Só quem entra em TP pode saber o que é ir para a Partolândia em um chuveiro quentinho (ou banheira pra quem é mais chique). A sensação é indescritível, melhor do que tudo que já experimentei (e não é pouco). Dava toda a vida que tive antes daquele momento para ficar ali mesmo. Sinto muito pelos homens, que nunca saberão o que é isso.

Nem sei quanto tempo fiquei lá, mas pareceu uma eternidade maravilhosa. Quando saí não queria mais colocar as roupas. A doula corria atrás de mim e ia enfiando meus bracinhos no avental pra eu não sair peladona pelo corredor. E eu nem aí, já toda descabelada, molhada, pelada e cansada também. Eram umas cinco horas da manhã e nada da Laura. Veio uma enfermeira ver a dilatação, 8cm. Devia ter ficado mais tempo em casa. Os últimos 2cms foram “rápidos” comparados com os primeiros.

Umas seis horas o “bicho começou a pegar”. Começou a parte expulsiva do negócio. Minha barriga queria sair sozinha, ganhou vida própria de vez. As contrações mudaram, passaram a vir como ondas fortes que puxavam/empurravam pra baixo. Não estava esperando por aquilo e fiquei com medo. Achava que estava preparada pra tudo, mas não sabia como ia ser na prática. Me pediram pra fazer força quando a contração viesse. A doula me lembrou de vocalizar (praticamente um gemido em ‘A’ foi o que eu fiz). Não estava mais afim de brincar de ganhar bebê.

Pedi ajuda pra ela quase chorando (me segurei): “Tiiiiiiira ela daquiii!” Qu me acalmou dizendo: “Mari, a gente já passou todas as fases, só falta o chefão” (como no vídeo game, na minha cabeça vinha o Super Mario combatendo aquela tartaruga gigante). Então me distraía, dava umas risadinhas chorosas e vinha outra contração. Eu pensava que não ia conseguir se ficasse pior (não era a dor, era o medo). E de novo vinha ela toda calma: “Mari lembra que eu disse, quando achar que não aguenta mais é porque está acabando!”. Me fortaleci de novo. Veio uma enfermeira me dar gotinhas de glicose embaixo da língua para recuperar energias, estava sem comer a muito tempo. Conferiu a dilatação e avisou que já estava coroando, que tínhamos que ir pra sala de parto. Eu queria ficar mais um pouquinho por ali e ela perguntou se era pra minha filha nascer no corredor, porque a cabeça já estava saindo (a delicada!). Então fui rapidinho.

Sentei na cadeira de cócoras e veio uma contração, fiz força e nada. Fiquei tentando arrumar uma posição melhor, mas as contrações pararam. Fiquei nervosa de novo. Disseram pra colocar a mão que iria sentir o cabelinho e olhar pelo vidro na minha frente que iria ver o reflexo dela saindo, mas eu só pensava e dizia: “Por favor, só tira ela daqui. Tô exauta, me ajuda”. A enfermeira ficou tentando estimular a contração mexendo na minha barriga, e então voltou.

Puxei todo o ar que meu pulmão podia (agora sem ser pressionado pelo útero) e quando ela veio fiz toda a força que pude também, mas não deu. Não senti vir mais nenhuma, mas tinha que fazer força, ela tinha que sair. Busquei o restinho de energia que tinha, fiz menos força do que na primeira mas senti a bolsa romper e me molhar quentinho. Ouvi um gemidinho que vinha só de uma cabecinha pra fora. Não acreditei, fiquei impressionada com aquilo e perguntei se era ela chorando. Fiquei radiante! Achei que tinha acabado, mas faltava o corpinho que uma amável estudante (ou recém formada) estava “tentando me ajudar” a colocar pra fora. Ela não sabia nem o que estava fazendo e na verdade mais atrapalhou do ajudou no MEU trabalho. O médico que acompanhava mostrou como fazer, com toda paciência de professor do mundo. Minha perereca já tava virada numa sala de aula. E então a Laura nasceu.

6:15, com 3,415kg, 50,5cm, mais de uma volta de cordão, limpinha apesar do mecônio e só sujinha de sangue do pescoço pra cima. Colocaram no meu colo e ali namorei interminavelmente cada detalhe dela ignorando tudo o que estava acontecendo ao nosso redor. Ela quietinha, não chorou até a hora que começaram a limpar e cortaram o cordão. A primeira coisa que fiz foi sentir o cheirinho de vida no hálito dela. Falei pra ela: “Filha, a vida vai ser difícil, mas a mãe sempre vai estar aqui contigo tá. Nós vamos ser muito felizes!”. Antes de pegarem ela para lavar e tudo mais que fazem com os pobrezinhos quando nascem, aí começou o berreiro de verdade. Pedi que a doula fosse atrás cuidar dela pra mim (pelámordedeus) e lá foram.

Fiquei eu e a amável estudante. Tive laceração que precisava de pontos e ela os faria... Deu anestesia local e fez o “serviço”. Chamou o médico que olhou e fez um sinal de negativo com a cabeça. Disse que estava TUDO errado. ¬¬’ (oi amigo, eu tô aqui, vendo e ouvindo! Não me apavora!) Cortou todos os pontos, começou a refazer e passou pra bonita terminar. Me senti um saco de batatas. A anestesia já tinha passado fazia tempo, mas eu nem me importava mais, depois da bola de basquete passar por onde só passava uma de gude, o resto era bobagem. Mas meu pé estava bem pertinho da cabeça dela, eu poderia ter acertado!

Tudo certo, tudo terminado. Já me sentia pronta pra outra. Uma das enfermeiras que acompanhou o parto veio me cumprimentar dizendo que precisavam de mais parideiras como eu por lá e terminou com um “até ano que vem!”. Me passaram pra uma cama e fomos esperar no corredor. A Laura do meu lado, não quis mamar porque ainda estava com o estomagozinho cheio. Pedi novamente que a doula ficasse com ela (medo de alguém roubar) e dormi por umas duas horinhas, foi quando arrumaram um quarto. Na ida passei pela minha mãe que perguntou como foi e como eu estava. Eu só respondi que foi lindo e do jeito que eu queria. Fomos para um quarto, só meu (Ê). Minha mãe roubou uma das camas para ela e tivemos que ficar por ali até sexta-feira. Era para irmos embora um dia antes, mas como não deixei que uma das enfermeiras desse água para a pequeninha tive que ficar de castigo. Saí linda e maquiada assim como entrei, mas agora levando meu presentinho no colo, me sentindo mais mulher do que nunca. Essa coisinha que hoje está com mais de 10kgs (e 19 meses) me obrigou na marra a criar juízo e valorizar minha vida, me ensinou o que é amor de verdade. Desde o dia que chegou em minha vida, até hoje só me traz alegrias.

Agradeço a todos que fizeram parte desse nosso momento e que ajudaram tanto a concretizar esse sonho lindo que é a maternidade.

sábado, 3 de dezembro de 2011

A dor ao meu ver


"A dor, pra mim, é um sinal de que algo está errado". Essa foi a primeira resposta que minha mente deu ao pensar em DOR! Mas analisando melhor a dor é um sinal de que tudo está na verdade dando certo. O corpo está respondendo exatamente como tem que ser. Se cortamos nosso pé por exemplo e não estivermos vendo, sentiremos a dor que nos alertará que algo aconteceu, para que percebamos e tomemos os devidos cuidados.

Enxergo a dor do parto quase da mesma forma. O corpo sinalizando que está trabalhando, que tudo lá por dentro (e também por fora) está se movendo, abrindo e modificando. Nos avisando para que tomemos as devidas precauções para que tudo transcorra bem... Se sentimos dor, mudamos de posição para que o trabalho flua de acordo, por exemplo.
Antes de passar pelo parto qualquer dor de cabeça era motivo para analgésicos, hoje tento entender o motivo de ela existir, dependendo da causa e da circunstancia, tomo uma devida atitude, como parar o que estava me causando a dor, corrigindo e tentando fazer de uma forma diferente para que não volte a acontecer.

Pensava no parto como uma dor necessária, que toda mulher Tinha que passar e pronto. Hoje tenho consciência da complexidade por trás dessa 'dor' (fisiológica e psicológica). Mas ainda acredito que se ela ocorre tem um motivo e na maioria das vezes a encaro de frente... Hoje, depois de parida. 

E diante da dor do outro, ajo da mesma forma, como se fosse comigo. Tento passar o meu modo de entendê-la, para também tranquilizar a outra pessoa: de que o corpo está agindo da forma correta, que está alertando para algo e que tomemos uma atitude para que se alivie aquela situação. Auxiliar a pessoa a também entender essa dor.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Circular de cordão ou cordão enrolado no pescoço


Por Ricardo Herbert Jones – Médico Obstetra e Homeopata / Porto Alegre – RS
Minha experiência com circulares de cordão é razoável. Muitas pacientes me procuravam com medo de uma cesariana porque o seu médico falava que o cordão esta enrolado no pescoço, portanto uma cesariana era mandatária, sob pena do nenê entrar em sofrimento.
Circulares de cordão são banalidades na nossa espécie. Um número muito grande de crianças nasce assim. Eu tinha a informação que a incidência era de 30%, mas talvez seja um número antigo ou inadequado. De qualquer sorte, uma quantia considerável de crianças vem ao mundo desta forma. Já tive partos com 3 voltas bem firmes no pescoço, e com apgar 9/10.
É engraçado ver a expressão das pacientes quando conto pra elas que o que me preocupa não é o pescoço, mas o cordão. O fato do pescoço estar sendo pressionado é pouco importante se comparado com a compressão do cordão. A fantasia da imensa maioria das mulheres (mas também dos homens) é que a criança está se “”enforcando”" no cordão. Elas ficam surpresas quando explico que o bebê não está respirando, então porque o medo da asfixia? Acontece que existe espaço suficiente para o sangue transitar pela estrutura do cordão, protegida pela geléia de Warthon que o recobre, mesmo com voltas em torno do pescocinho. Além disso, se houver uma diminuição na taxa de passagem de oxigênio pelo cordão isso será percebido pela avaliação intermitente durante o trabalho de parto. E esse evento NUNCA é abrupto. DIPs de cordão, como os chamamos, ficam dando avisos durante horas, e são diminuições fortes apenas durante as contrações, com o retorno para um batimento normal logo após. Marcar uma cesariana por um cordão enrolado no pescoço é um erro.
Sei como é simples e fácil apavorar uma mãe fragilizada contando histórias macabras a esse respeito, mas a verdade é que não se justifica nenhuma conduta intervencionista em virtude deste achado. Por outro lado, a presença deste diagnóstico tão disseminado nos consultórios e nas conversas entre pacientes nos chama a atenção porque, se não é um problema médico, é uma questão sociológica.
Esse exame parece funcionar como um acordo subliminar entre dois personagens escondidos no inconsciente dos participantes da trama, médico e paciente.

De um lado temos uma paciente amedrontada, desempoderada diante de uma tarefa que parece ser muito maior do que ela. Acredita piamente no que o “”representante do patriarcado”" (no dizer de Max) lhe diz. Não retruca, não critica; sequer pergunta. Nada sabe, mas precisa do auxílio daquele que detém um saber fundamental aos seus olhos. Diante das incertezas, da culpa, do medo e da angústia ela se entrega, aliena-se. Fecha os olhos e coloca o “anel”, que faz com que ela mesma desapareça, entregando-se docilmente aos desígnios dos que detém o poder sobre seu destino. Oferece seu corpo para que dele se faça o que for necessário.
Na outra ponta está o médico. Sofre em silêncio a dor da sua incapacidade. Pensa baixinho para que ninguém leia seus pensamentos. Sabe que pouco sabe, mas também tem plena noção do valor cultural que desempenha. Nada entende do milagre do nascimento, mas percebe seus rituais, muitas vezes ridículos, outras vezes absurdos e perigosos, produzem uma espécie de tranquilização nas mulheres. Não se encoraja a parar de encenar, porque teme que não lhe entendam. Continua então repetindo mentiras, esperando que não descubram o quão falsas e frágeis elas são. É muitas vezes tomado pelo “”pânico consciencial”", que é o medo diante de uma tomada de consciência.Muitas vezes age como um sacerdote primitivo que, por uma iluminação divina ou por conhecimento adquirido, percebeu que suas rezas e ritos de nada influenciam as colheitas, e que o que governa estes fenômenos está muito além de suas capacidades. Entretanto, sabe que os nativos precisam dos rituais, que ele percebe agora como inúteis, porque assim se dissemina a confiança e a esperança. Mente, mas de uma forma tão brilhante, sofisticada e tecnológica, que deveras acredita no engodo que produz.
Ambos, mulher e médico, precisam aliviar suas angústias diante de algo poderoso, imprevisível e incontrolável. Olham-se e tramam o golpe.
O plano que deixará ambos aliviados diante do enfrentamento. Mentem-se com os olhos. Eu finjo saber; você finge acreditar. Peço os exames. Todos. E mais um pouco. Procuro até encontrar aquilo que nos fornecerá a chave. A minúscula desculpa. Eu, com ela nas mãos, posso realizar os rituais que me desafogam da necessidade de suportar a angústia de olhar e nada fazer. Você, poderá escapar da dor de aguardar e fazer o trabalho por si. Poderá dizer que “”tentou”", mas, foi melhor assim. O nenê poderia correr perigo. O cordão poderia deixar meu filho com problemas mentais, etc.
Feito. Pedido o exame, lá estava: O cordão, mas poderia ser o líquido, a posição, a placenta, a ossatura, as parafusetas protodiastólicas. Quem se importa? O carneiro, a virgem, o milho, todos são sacrificados. Quem se importa? Livramo-nos da dor. Anestesiamos nossas fragilidades e angústias. Ritualizamos, encenamos e todos acreditam.
Nem todos! Alguns acordam, mesmo que leve muito, muito tempo.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Samarica Parteira

- Oi sertão!
- Ooi!
- Sertão d' Capitão Barbino! Sertão dos caba valente...
- Tá falando com ele!...
- ...e dos caba frouxo também.
-...já num tô dento.
- Há, há, há... [risos]
- sertão das mulhé bonita...
- ôoopa
- ...e dos caba fei' também ha, ha
- ...há, há, há... [risos]
- Lula!
- Pronto patrão.
- Monte na bestinha melada e risque. Vá ligeiro buscar Samarica parteira que Juvita já tá com dô de menino.
Ah, menino! Quando eu já ia riscando, Capitão Barbino ainda deu a última instrução:
- Olha, Lula, vou cuspi no chão, hein?! Tu tem que vortá antes do cuspe secá!
Foi a maior carreira que eu dei na minha vida. A eguinha tava miada.
Piriri piriri piriri piriri piriri piriri piriri
uma cancela: nheeeiim ... pá...
Piriri piriri piriri piriri piriri piriri
outra cancela: nheeeiim... pá!
Piriri piriri piriri pir... êpa !
Cancela como o diabo nesse sertão: nheeeiim... pá!
Piriri piriri piriri piriri
Um lajedo: patatac patatac patatac patatac patatac . Saí por fora !
Piriri piriri piriri piriri piriri piriri piriri piriri
Uma lagoa, lagoão: bluu bluu, oi oi, kik' k' - a saparia tava cantando.
Aha! Ah menino! Na velocidade que eu vinha essa égua deu uma freada tão danada na beirada dessa lagoa, minha cabeça foi junto com a dela!... e o sapo gritou lá de dentro d'água:
- ói, ói, ói ele agora quaje cai!
... Sapequei a espora pro suvaco no vazi' dessa égua, ela se jogou n'água parecia uma jangada cearense: [bluu bluu, oi oi, kik' k'] Tchi, tchi, tchi.
Saí por fora.
Piriri piriri piriri piriri piriri piriri piriri
Outra cancela: nheeeiim... pá!
piriri piriri piriri piriri piriri piriri
Um rancho, rancho de pobe...
- Au au!
Cachorro de pobe, cachorro de pobe late fino...
- Tá me estranhan'o cruvina?
Era cruvina mermo. Balançô o rabo. Não sei porque cachorro de pobe tem sempre nome de peixe: é cruvina, traíra, piaba, matrinxã, baleia, piranha.
Há! Maguinho mas caçadozinh' como o diabo!
Cachorro de rico é gooordo, num caça nada, rabo grosso, só vive dormindo. Há há ... num presta prá nada, só presta prá bufar, agora o nome é bonito: é white, flike, rex, whiski, jumm.
Há! Cachorro de pobe é ximbica!
- Samarica, ooooh, Samarica parteeeeira!
Qual o quê, aquelas hora no sertão, meu fi', só responde s'a gente dê o prefixo:
- Louvado seja nosso senhor J'us Cristo!
- Para sempre seja Deus louvado.
- Samarica, é Lula... Capitão Barbino mandou vê a senhora que Dona Juvita já tá com dô de menino.
- Essas hora, Lula?
- Nesse instante, Capitão Barbino cuspiu no chão, eu tem que vortá antes do cuspe secá.
Peguei o cavalo véi de Samarica que comia no murturo ? Todo cavalo de parteira é danado prá comer no murturo, não sei porque. Botei a cela no lombo desse cavalo e acochei a cia peguei a véia joguei em riba, quase que ela imbica p'outa banda.
- Vamos s'imbora Samarica que eu tô avexado!
- Vamo fazê um negócio Lula? Meu cavalin' é mago, sua eguinha é gorda, eu vou na frente.
- Que é que há Samarica, prá gente num chegá hoje? Já viu cavalo andar na frente de égua, Samarica? Vamo s'imbora que eu tô avexado!!
Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic
nheeeiim... pá!
Piriri tic tic piriri tic tic
bluu oi oi bluu oi, uu, uu
- ói, ói, ói ele já voltoooou!
Saí por fora.
Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic
Patateco teco teco, patateco teco teco, patateco teco teco
Saí por fora da pedreira
Piriri piriri tic tic piriri tic tic
nheeeiim... pá !
Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic
nheeeiim... pá !
Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic
nheeeiim... pá!
Piriri piriri tic tic piriri tic tic
- Uu uu.
- Tá me estranhando, Nero? Capitão Barbino, Samarica chegou.
- Samarica chegou!!
Samarica sartou do cavalo véi embaixo, cumprimentou o Capitão, entrou prá camarinha, vestiu o vestido verde e amerelo, padrão nacioná, amarrou a cabeça c'um pano e foi dando as instrução:
- Acende um incenso. Boa noite, D. Juvita.
- Ai, Samarica, que dô !
- É assim mermo, minha fi'a, aproveite a dô. Chama as muié dessa casa, p'a rezá a oração de São Reimundo, que esse cristão vem ao mundo nesse instante. B'a noite, cumade Tota.
- B'a noite, Samarica.
- B'a noite, cumade Gerolina.
- B'a noite, Samarica.
- B'a noite, cumade Toinha.
- B'a noite, Samarica.
- B'a noite, cumade Zefa.
- B'a noite, Samarica.
- Vosmecês sabe a oração de São Reimundo?
- Nós sabe.
- Ah Sabe, né? Pois vão rezando aí, já viu??
[vozes rezando]
- Capitão Barbiiino! Capitão Barbino tem fumo de Arapiraca? Me dê uma capinha pr' ela mastigar. Pegue D. Juvita, mastigue essa capinha de fumo e não se incomode. É do bom! Aguenta nas oração, muié! [vozes rezando] Mastiga o fumo, D. Juvita... Capitão Barbino, tem cibola do Cabrobró?
- Ai Samarica! Cebola não, que eu espirro.
- Pois é prá espirrar mesmo minha fi'a, ajuda.
- Ui.
- Aproveite a dor, minha fi'a. Aguenta nas oração, muié. [vozes rezando] Mastigue o fumo D. Juvita.
- Capitão Barbiiino, bote uma faca fria na ponta do dedão do pé dela, bote. Mastigue o fumo, D. Juvita. Aguenta nas oração, muié. [vozes rezando alto].
- Ai Samarica, se eu soubesse que era assim, eu num tinha casado com o diabo desse véi macho.
- Pois é assim merm' minha fi'a, vosmecê casou com o vein' pensando que ela num era de nada? Agora cumpra seu dever, minha fi'a. Desde que o mundo é muundo, que a muié tem que passar por esse pedacinh'. Ai, que saudade! Aguenta nas oração, muié! [vozes rezando alto].Mastigue o fumo, D. Juvita.
- Ai, que dô!
- Aproveite a dô, minha fi'a. Dê uma garrafa pr' ela soprá, dê. Ô, muié, hein? Essa é a oração de S. Reimundo, mermo?
- É..é [muitas vozes].
- Vosmecês num sabe outra oração?
- Nós num sabe... [muitas vozes].
- Uma oração mais forte que essa, vocês num têm?
- Tem não, tem não, essa é boa [muitas vozes]
- Pois deixe comigo, deixe comigo, eu vou rezar uma oração aqui, que se ele num nascer, ele num tá nem cum diabo de num nascer: "Sant' Antoin pequenino, mansadô de burro brabo, fazei nascer esse menino, com mil e seiscentos diabo!"
[choro de criança]
- Nasceu e é menino homem!
- E é macho!
- Ah, se é menino homem, olha se é? Venha vê os documento dele! E essa voz!
Capitão Barbino foi lá detrás da porta, pegou o bacamarte que tava guardado a mais de 8 dia, chegou no terreiro, destambocou no oco do mundo, deu um tiro tão danado, que lascou o cano. Samarica dixe:
- Lascou, Capitão?
- Lascou, Samarica. É mas em redor de 7 légua, não tem fi' duma égua que num tenha escutado. Prepare aí a meladinha, ah, prepare a meladinha, que o nome do menino... é Bastião.

Luíz Gonzaga