quarta-feira, 13 de julho de 2011

A chance dos pais ficarem “grávidos”

 (Eu estava louca para postar sobre o Método Canguru aqui no blog, até que encontrei essa matéria e achei linda a participação e interesse dos pais. Esse método é praticado na maternidade onde minha Laura nasceu e em várias outras pelo Brasil. A pouco tempo fui lá conhecer um pouco mais sobre e saí fascinada, tanto por todo o método quanto pelos profissionais que auxiliam nesse lindo trabalho que fortalece o vínculo mãe-filho (e porque não pai-filho, não é) e salva muitos bebezinhos que resolvem nascer antes do tempo. Quem fabrica os 'cangurus' por lá são as próprias funcionárias. Os 'carregadores' são super simples mas feitos com muita criatividade. Amei!)


Eles já participam da técnica Canguru, que simula gestação e melhora saúde dos prematuros

Fernanda Aranda, iG São Paulo | 08/07/2011 11:42

Foto: Edu Cesar/FotoarenaAmpliar
Pais, como Netinho, aderem ao método Canguru, que simula gravidez para bebês prematuros. Na foto, ele aplica a técnica com Guilherme, um de seus trigêmeos de dois meses
Fã de Charlie Brown Júnior, apaixonado por skate, tatuado, barba por fazer e pai de primeira viagem. Euclides de Freitas Neto, 23 anos, o Netinho, sempre cultivou a aparência máscula e nem precisou da paternidade, experimentada só há dois meses, para revelar o seu lado emocional e até materno. “Se pudesse, eu amamentaria”, diz, sem um pingo de vergonha.
Para estes homens, cada vez mais interessados no cuidado dos filhos, as maternidades abrem as portas, reservam espaço e incentivam um papel tão ativo, que aproxima deles até mesmo a sensação de estar “grávido”.
No Hospital Santa Joana, em São Paulo, por exemplo, Netinho não só acompanhou de perto a chegada dos trigêmeos, nascidos em maio, como hoje - ao lado da mulher Rafaela Freitas, 21 anos - é peça fundamental na recuperação dos prematuros (um deles nasceu com só 590 gramas). Ele e ela se dividem na função diária do método Canguru, uma técnica que simula a gestação para os bebês que nascem com baixo peso. “É a chance que eu tenho de ficar próximo dos meus três filhos, de tocá-los, criar um vínculo que vai além do vidro da incubadora”, resume o pai.
O que é o Canguru?
O método canguru consiste em colocar recém-nascido por alguns minutos na região da barriga dos pais. Eles ficam seguros por faixas e, este contato pele a pele, promove troca de hormônios e estimula o desenvolvimento da criança como se ela estivesse no útero. A técnica, criada há 30 anos, coleciona evidências científicas sobre os efeitos positivos e virou política de saúde nacional em 2001. Mas até dois anos atrás, pontuam os especialistas, era um privilégio quase que exclusivo feminino.
“Nós nunca fizemos restrição aos pais. Mas de um tempo para cá eles começaram, de forma espontânea, a pedirem para participar”, afirma a diretora da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Santa Joana, Filomena Bernardes de Mello. “Os benefícios não ficam restrito aos bebês. As mães ganham com isso e os pais aprendem, desde a maternidade, a ter autonomia no cuidado com os bebês. Quando vão para casa, eles já estão participativos, sentindo que são responsáveis por aquelas crianças.”
Foto: Edu Cesar/FotoarenaAmpliar
Netinho e Rafaela dividem a tarefa de fazer o canguru com os filhos, Maria Clara, Guilherme e Rafa. O terceiro nasceu com 590 gramas e ainda não sai da incubadora
Estudos publicados no Caderno de Saúde Pública evidenciam que a alta hospitalar é acelerada nos bebês submetidos ao Canguru. As publicações científicas mostram ainda que a adesão à amamentação chega a ser ampliada em 82% com a técnica. Netinho, que na ponta da língua tem o horário e o peso que chegaram ao mundo Maria Clara (1,5 quilos nascida às 4h32), Guilherme (980 gramas e horário do parto às 4h34) e Rafael (590 gramas e às 4h35) não vê mesmo a hora de que seus pequenos durmam no quarto que começou a montar há três anos, quando ele e Rafaela começaram a planejar a chegada do bebê.
“Pedi licença no trabalho para cuidar dos meus filhos. Quero e preciso participar deste momento, que nem sempre é de alegria. A Maria Clara já faz canguru há mais tempo, o Gui começou há três dias e o Rafa ainda não pode sair da incubadora, por ser muito pequenino”, diz Netinho. “Mas enquanto faço a técnica com um deles, ficou segurando os dedinhos do Rafinha. É impressionante. Imediatamente, a frequência cardíaca deles todos fica estável e o pulmão respira melhor. Sinto que sou um super-herói”, completa ele, ao dividir a experiência com outros três pais que também faziam às vezes de “grávidos” na UTI do Santa Joana.
Ampliar a adesão
Um trabalho feito em uma maternidade pública do Rio de Janeiro, que acompanhou três pais de idades entre 19 e 68 anos para tentar mensurar a importância do canguru, mostrou que eles não sabiam que podiam fazer o método e nem freqüentaram o pré-natal junto com suas mulheres. Porém, quando viraram praticantes da técnica, eles “acariciavam seus filhos, relatavam estar felizes, percebendo que a criança se sente melhor quando está mais próxima”, descreveram os autores no estudo.
Foto: Edu Cesar/FotoarenaAmpliar
Além de ajudar na recuperação dos bebês, Netinho usa o tempo do Canguru para conversar com seus filhos. "Sinto que sou o super-herói deles"
O ginecologista e obstetra Alberto D’Áurea, que atua nas duas principais maternidades particulares de São Paulo (Santa Joana e Pró-Matre) avalia que não só após o nascimento, mas durante a gestação, o profissional de saúde precisa delegar funções aos pais. “Os homens de hoje são de outro tempo e um projeto gestacional montado a dois é muito mais saudável”, diz D´’Aurea. “As mulheres precisam ser generosas e aceitar a dividir este cuidado, porque os pais ficaram abandonados durante muito tempo, como se não fizessem parte da maternidade. Isso precisa mudar.”
Para aproximar os pais dos bebês, mesmo quando eles estão na barriga das mães, o ginecologista passa para eles a responsabilidade de estimular as mamas das mães, o que facilita a amamentação quando a criança nasce. “Passo para eles também a missão de cuidar da dieta quando elas estão hipertensas ou diabéticas. Quando eles cobram pela saúde dos filhos, ajudam a garantir a saúde das mães.”
O diretor da Maternidade do Hospital Samaritano, e consultor da CordCell (rede de células tronco e cordão umbilical), Edilson da Costa Ogeda, acrescenta outras táticas para os pais também sentirem-se grávidos. “Hoje realmente temos novos pais. Eles são mais participativos e a consulta de pré-natal é dele também. Por isso o médico precisa olhar nos olhos deste homem, perguntar quais são as dúvidas e abrir espaço para que ele pergunte tudo. Outro ponto importante é sempre convidá-lo para assistir ao parto.”
Futebol e sonhos
Netinho - que não sai da maternidade, comprou livros sobre o comportamento de prematuros e dos trigêmeos, dá conselhos às mães e aos pais – conta que fazer o canguru é mais do que levar um remédio natural aos filhos, participar do processo e se envolver com a criação deles. “É a hora que a gente conversa bem pertinho”, diz. “Digo para os meus filhões que, apesar de ser corintiano roxo, eles vão poder torcer para o time que quiserem. Conto para a Maria Clara que, se ela desejar, vou ensiná-la a andar de skate. Confesso para os três que, na hora da bagunça, quem vai dar bronca é a mãe.”

fonte: ig

4 comentários:

  1. Eu trabalhei no HU e fazia atendimento psicologico com as famílias de bebes internados na UTI neo. Praticamos lá o método canguru! É lindo o trabalho!

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  2. Então Carol, foi lá no HU mesmo que a minha filha nasceu! Também acho lindo! E quando a coisa é boa, fico louca pra espalhar a 'novidade'. Beijos

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  3. Adorei a reportagem! Muito bacana este método! Um beijão!

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  4. É muito legal mesmo Aline, ainda esse ano vou tentar ir lá de novo e fazer um post especial 'Mãe Canguru' ;) Beijos

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