quinta-feira, 6 de junho de 2013

ana nasceu assim, no carro



Laura me ensinou a ser mãe. Gui me lembrou que sou mulher. Ana me trouxe o equilíbrio!


 rabisquei esse bebê antes mesmo de desconfiar que estava grávida, mas já estava. exatamente a posição que Ana ficava desde o quinto mês, mãozinhas na boca – agora, depois de nascida descobrimos que chupa o lado da mãozinha - , perninhas cruzadas pra cima com pezinhos que nao paravam de chutar minha costela e lateral da barriga - chegava a ser visível diariamente. o fiz uma semana antes da minha mãe me olhar e falar: 'tu tá grávida'. durante a organização, duas semanas antes da 'marcha pela humanização do parto'. desenho que foi pintado no dia por um pai artista na barrigona da sua companheira. marcha que aconteceu no dia seguinte a boa nova notícia! o que me fez emocionada - e novamente por lembrar - gritar, mostrar e pedir pelo NOSSO direito de ser respeitada na chegada dela ao mundo.


Decidi desde o dia que me descobri a gravidez que teria meu parto em casa, com meus amores perto de mim e meus direitos respeitados. Mas não tive nem ao menos respeito a esse meu direito de escolha.
Tinha medo que me atrapalhassem em casa e tinha ainda mais medo de ir pra uma maternidade.

Só queria ficar em casa, no meu canto. Não queria decidir, nem planejar. Cercada de mulheres que sabiam e confiavam no parir. Tive certeza da minha escolha. Da nossa escolha, Só nossa. Só nós iríamos nascer. Só nós duas bastávamos. Só eu e Ana. Apenas nós duas saberíamos. Apenas ela!

Algumas semanas depois, em uma segunda-feira, depois de ‘ficar-de-bem’ com o marido, Ana me contou que ia chegar. Depois de meses com as contrações de brincadeirinha. Elas vieram de verdade. E a cada 10 minutos. Era noite e avisei o Gui que ela estava vindo e que devia chegar na quarta pela manhã. Terça, de manhã liguei para que ele viesse do trabalho pra ficar comigo.

Sentia ela baixíssima.

Colocamos roupinhas pra lavar. Até aquele dia nada estava arrumado, deixei para que fizéssemos durante o TP, para esperarmos mais um pouquinho ‘antes de ir’. 
Montamos o bercinho. Arrumamos a casa. Tirei fotos da bagunça e da nossa felicidade.
Pedi que fôssemos dar uma volta pra distrair. As ligações dos avós de primeira viagem (os sogros) eram mais constantes que as contrações e avisei quase no final da tarde que assim ela não iria nascer! 

E assim foi, depois de quase 20hrs de contração ritmada, desengrenou... Passou a vir de 15 em 15, 10 em 10. Mas a intensidade também já era outra. Quebrou o clima!

Quarta pela manhã, acordei cedo. Ana já estava super alta de novo. Já bateu o desespero. Não agüentava mais a cobrança do ‘vai parir ou não?’. Queria meu marido ali comigo, mas já sabia que Ana não viria mais naquele dia e ele teria que ir trabalhar.
Não deu muito tempo telefone já voltou a tocar... Liguei chorando para minha mãe, dizendo que sabia que não estava na hora, mas queria pelo menos fazer uma avaliação para acalmar todos ‘os ânimos’...

Na clínica uma médica debochada, depois de eu explicar como estavam as contrações, me perguntou: ‘mas então já nasceu, né’. Fez exame de toque e disse: ‘está alta, colo comprido, fechado, posterior. Vai demorar ainda pra nascer, mas se não vier até 41 semanas volta aqui’ (pela ultrassom estava na 40ª).  "Aham", disse eu. Sabia que ela não estava certa. Mas pelo menos as ligações parariam com essa resposta.

De lá fui pra minha mãe. Não queria esperar sozinha pela hora e o marido tinha que trabalhar. 
Quinta, na mesma: contrações constantes de 10 em 10 min. suaves como as de treinamento.

~ Diferente do que uma (linda) Ana me disse, as ‘Anas’ sabem sim o que querem!



Tirei fotos durante a tarde e a noite, na casa da minha mãe resolvi fazer um chá pra acalmar, não agüentava mais esse vem, não vem...  Fervi a água, coloquei um melzinho e pensei ‘porque não?’ e coloquei também uma canelinha em pó pra dar uma aquecida e já que estava do lado da pimenta do reino ‘porque não?’ uma pimentinha e já que já tem tudo isso, porque não um chocolate e pra completar, a camomila, porque eu queria ‘acalmar’, lembra? 



Depois desse meu ‘chá de parto’ que Naoli deve ter revirado-se na própria cama a coisa engrenou de novo... Mas fui deitar pra descansar e lógico, não conseguia, levantei pra pegar o ventilador no quarto da minha irmã e me perdi por lá, acabei dormindo um pouquinho lá, um pouquinho na cama com o marido e filha, um pouquinho no sofá, um outro pouco no banheiro.

Pela manhã o negócio já tava difícil... Avisei ‘asculéega’ que não iria ao encontro do curso (com as mulheres maravilha) e pra acender as velinhas que era hoje! Andava pra lá e pra cá a cada contração mas tava ruim de aturar. Chegava próximo ao 10º minuto e já ficava tensa. Tensa de ‘se ainda ia demorar muito’, ‘se a próxima ia ser pior’, ‘se eu ia aguentar a proxima, porque “essa ultima foi foda”’, se ia ter próxima, ‘medo de desengrenar’ e também de já estar engrenado. Fui no banheiro e sangue, fiquei mais tensa ainda e tentei ligar pro Dr. que me acompanhou no pré natal, até lembrar que era simplesmente o tampão.  Sentia ela baixa de novo, mas ‘colo comprido, fechado e posterior’. Juro que sentia!

As mulheres maravilha foram me doulando pelo telefone. Eu me estava sendo uma péessima doula, já não conseguia pensar direito, pela hora do tampão já conseguia me dar conta disso. Me ligaram, chorei, chorei, chorei, falei o quanto tava cansada, o quanto estava doendo e o quanto eu queria minha casa. E a resposta foi a que eu daria pra mim mesma, depois de me tranquilizando  me fazer enxergar a situação que estava (em uma casa com a minha mais velha de 3 anos e mais 4 homens, minha mãe estava no trabalho). Simplesmente não fluía, doía!. “Mari então vai pra casa”!

Era só o que eu queria, a minha casa com meus amores!

Falei pro Gui,’ vamos’, levantamos e fomos... Pra minha sogra. ¬¬ Meu marido é o melhor, não é gente?! Almoçamos, comi macarrão a vera! E estava super suportando as contrações, estava de boa, estava “quase indo pra casa”, né?! Contração ia do mesmo jeito, 10 em 10... nada mudava, já ia me desesperando de novo. Só queria minha casa, e era  que eu ficava repetindo pro Guilherme (essa altura do relato, já era Guilherme!). E ele dizia, ‘já vamos’, ‘não depende de mim’, ‘espera mais um pouco’ a cada 10 minutos durante 2horas! Iríamos de carona com meu sogro.

~ Ana fez 2 meses e ainda não sei o que que estávamos esperando.

As meninas me ligando pra saber como andava e tudo na mesma. Me mandando boas energias, me fortalecia!

Então meu sogro ainda iria passar no banco pra depois fazer algumas outras voltas antes de nos levar... E eu queria muuuuuuuuito a minha casa, a cada 10 minutos... Eu sabia que não estava evoluindo e sabia que era porque eu não estava me sentindo nem segura, nem confortável, muito menos feliz e respeitada com aquela situação. Meu sentimento era de revolta, indignada com o desrespeito por mim, pelo parto, pelo nascimento de um membrinho da família. Tava puta mesmo!

Pedi que o Guilherme fosse com ele, tirar dinheiro da minha conta pra irmos de táxi pra casa, já estava desesperando. Então ele foi. Ah e pedi que não voltasse sem um puta pote de sorvete de creme! E foram.

Fiquei eu, minha filha mais velha, minha bebê nascendo e minhas contrações de 10 em 10 minutos. Eu estava triste. Chorando de tristeza mesmo. Nunca imaginei que estaria naquela situação. Na verdade imaginava sim... ‘ter’ que ficar sozinha na minha sogra era uma coisa que me acontecia com muita freqüência (Jesus me libertou ahahah) mas parindo, ainda não tinha passado pela minha cabeça, mesmo... quanto inocência.
Mas por um lado foi ótimo. Me conectei, comecei a me conformar que iria nascer  de qualquer forma. Eu tendo imaginado ou não.  A cada contração eu ia pro banheiro, onde era mais escurinho, me balançava, sacudia o quadril, ia achando jeitos confortáveis de passar por elas, ia intensificando e nada de ninguém... Foi assim por mais ou menos 1hr, e ainda de 10 em 10.

Até que eu desisti. Me entreguei. Não tava mais afim. Me entreguei pra dor, pra sofrimento, pra tristeza... me encolhi com uma almofada e só chorava. Vinha a contração e eu só a sofria. E meu marido chegou, ele ficou com a Laura e eu fui ‘sofrer’ no quarto. Enquanto meu sogro e minha sogra se gritavam e discutiam qualquer coisa sobre o banco.
Então a mais nova doula, irmã, xará Mari ligou e ligou também a chavezinha do meu parto! Me disse, ‘Mari se entrega pro teu parto, deixa teu bebê nascer’ e se propôs a me acompanhar se precisasse. (Atá e eu ligando a cobrar pra pessoa, gente!)

Assim que ela desligou pegou fogo! Fui pro chão e dei uma urrada básica. Engrenou de vez, vinha muito forte e acredito que de 5 em 5 minutos. Ainda de joelhos, apoiada na cama na minha frente liguei pra minha mãe e só disse, ‘tô na sogra, me leva pra maternidade que tá nascendo’. Retornei pra Mari e disse pra ir pra Clinica Ilha que eu queria muito ela junto. Isso era 14:00 (e mais alguns minutos).

Levantei do chão e fui pra sala. Meu sogro e sogra agora tinha resolvido ir e já estavam saindo. Avisei que tinha ligado pra minha mãe, que estava vindo e pedi que levassem a Laura. Chorei olhando minha pequena e dizendo o quanto eu queria que ela estivesse junto pra ver a mana nascer mas que não ia dar. Dei um beijinho e ela foi...
Veio mais uma contração, de olho fechado sentindo vir a onda pedi pro marido tirar minha sandalia, fui pro escurinho do banheiro de novo, mas já não era suficiente. Tirei minha bermuda e liguei o chuveiro bem quentinho e tentando não molhar minha roupa deixei a água cair na lombar onde mais doía. E claro, milagrosamente a dor passava e a sensação só era deliciosa... Lembrei do meu primeiro parto!

Passou, pedi sorvete e veio outra... chuveiro!

Buzina, minha mãe chegou. 14:30 e poucos? 40? Pedi uma toalha e saí de blusinha e calcinha, meio que enrolada numa toalha e molhada, pela rua mesmo. E urrando. Só até chegar o carro, senti umas 3 contrações... Na porta da casa, no meio do caminho e na porta do carro. De olho fechado gritei pra mãe e pro marido: “Vaaaaaaaaaaai, cara” Abri o olho, a porta do carro aberta e os dois me esperando entrar e rindo da minha cara.

Entrei e a cena se repete: No carro tudo tranqüilo a 300km/hr (uma vovó desesperada no volante).  Perguntando: Gui qual o caminho mais rápido pro centro e ele foi guiando, vira aqui dona Mary, vira ali, vai reto aqui... Barreiros, Estreito... E cortando todo mundo e buzinando e enlouquecida. Me perguntando coisa, brigando comigo... sei lá. Durante a contração eu só rosnava... Eu ainda sentia, ela baixa, mas ‘colo comprido, fechado, posterior’. Sentia ela ainda dentro do útero. Juro que sentia! Nem ouvia, nem olhava. Durante o trajeto só dava umas espiadas. Fiquei  de olho fechado, em outro planeta, só sentia...

Subindo a Av. Ivo Silveira a mãe quis saber de quanto em quanto estavam as contrações e me perguntou no intervalo delas, e veio uma ela me disse: ‘vamos ver, agora 14:54 e foi subindo a avenida, veio outra “14:55 isso foi outra?”, na sinaleira em frente ao INSS, do lado de um ônibus. Eu com os pés no painel do carro, calcinha toda amostra pro povo e o povo olhando pra dentro do carro, no mínimo, sem entender a primeira vista, veio outra, e agora mãe? “14:56, ai meu deus, ta nascendo” Concluiu só agora!

Gui ia tentando ligar pra conseguir escolta, polícia, bombeiro, SAMU, nem sei, sei que ficava com 'vários alguens' no telefone... Pedi pra comer soverte, de novo!

Descendo a avenida! Fora da casinha, falava pra minha mãe, ainda com medo de estar indo antes da hora pra meternidade eu dizia, ‘mas pode nem ser nada mãe’, ‘deve ser só vontade de fazer cocô, se eu fizer a contração vai aliviar’ e ela gritava comigo “ Não faz força, não faz força”.

Pedi um papel pra forrar o banco, ainda achando que ‘era só isso’. Ainda tinha medo de chegar na maternidade e sofrer  (na minha cabeça) mais 6horas de TP, na ocitocina e outras intervenções... Tinha medo de fazer força, ainda sem ser a hora e ter um edema de colo e atrapalhar tudo (a louca cheia de informação, tentando ser inteligente na hora de ser bicho).
Fizemos a curvooooona voando, coloquei a mão pra ver ‘por onde ia sair’ e no solavanco da subida da ponte Pedro Ivo, entrada pra ilha de Florianópolis, na primeira empurrada, voluntária, involuntária, Ana foi saindo e pulou pro meu colo!

Guilherme falando com 'alguens' no telefone, só avisou, 'nasceu Drª, nasceu'.....
Minha mãe só disse: ‘Ai meu deeeeeeeeeeeus, vou fechar o olho, ai meu deeeeeeeeeeeus, vou desmaiar’.


A cena era linda! Ela quentinha e cheirosa, cheirando a Vida, o cordão ainda dentro de mim, eu sentia tudo latejando, tudo tão gostoso! Os olhões abertos, deram de cara com o pai, que só chorava e achava ela linda e perfeita. Os dois conversavam enquanto eu observava a cena quase que em câmera lenta e dava risada! O carro vermelho por dentro, via minha filha no meu colo, o pai dela do meu lado, minha mãe na minha frente e a ponte Hercílio Luz ao fundo. Com muito sol que fazia as 15:00 da tarde e refletia toda aquela nossa alegria. E desespero da minha mãe que ainda corria afoita caçando escolta pra maternidade. E dizia braba pra de mim, ‘ela fica rindo, ó’.

Embrulhei ela na toalha, pedi a camisa do Gui e tornei a embrulhar e assim fomos. Eu tentando acalmar os ânimos, 'está tudo bem gente, calma, ela ta respirando, ela tá bem. Tá tudo bem'.

Até que na altura do trapiche encontramos uma viatura, com um policial que não tava acreditando no que via, teve que sair e vir até a porta do carro e dar de cara com TUDO AQUILO pra sair disparado, disparado de verdade. Acho que o coitado se assustou. Acho que até chorrou com o Gui na porta da maternidade depois parabenizando. ~rs
Ele nos escoltou até a Carmela Dutra, onde gritaram por uma cadeira de rodas, mas já tinha descido andando do carro com minha cria embrulhada e colada em mim até a sala de atendimento.

Ana chegou, depois de 41 semanas e 6 dias, agradando a todos. A mãe queria em casa, o pai na maternidade. Ela escolheu o meio termo. O meio do caminho. Só ela sabia!



ps.: o pós parto merece uma segunda-parte (continua...). 

16 comentários:

  1. Caramba, que lindo, que mágico e que punk! Parabéns guerreira!

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  2. Que lindo relato! Que parto desmistificador! Amei! Posso divulgar?
    beijos

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  3. Muito emocionante! Ri e chorei ao mesmo tempo! A Ana sabe das coisas!

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  4. Ah! Mari! Super emocionante!

    Lembro também de racionalizar demais no meu TP!

    Parabéns pelo partaço! :)

    Beijos

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  5. Bebês são inteligentes desde o ventre rsrsrs Ana soube agradar todo mundo.

    Houve momentos do seu relato em que revivi meu parto (porque o primeiro nascimento foi uma cesárea ¬¬ raiva), foi bem difícil porque eu não conseguia me conectar, me entregar, família e amigos contra, só a equipe me apoiando, e o medo de algo sair errado e todo mundo me julgar pelo resto da vida não me permitiam a entrega.

    Em alguns trechos do relato, senti raiva por você, sinceramente não teria sido tão lady com meu marido como foi com o seu. Teria dado a ele nomes nada elogiosos se não tivesse me levado pra casa, e doida como sou seria bem capaz de ir a pé mesmo.

    Fiquei muito feliz que você conseguiu seu parto pleno, lindo, sem intervenções, tão SEU e da linda Ana. Amei!!!

    Oxalá todas as mulheres pudessem conhecer e sentir a delícia da "dor" de parir.

    Se prepara porque as Ana'são pessoas de personalidade (tenho uma mas a escrita é o original em hebraico: Hannah), sabem o querem e pra quê vieram.

    Felicidades ao infinito e muito, muito leite, cheiro, aconchego, amor!

    Beijos.

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  6. muito lindo! emocionante! parabéns, poderosa!

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  7. Lindo demais!!!
    Parabéns pela coragem...rsrs

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  8. lindoooooo.....parabens.....ri...chorei.....e sofri junto contigo....rsrsrs tenho 3 meninos, os dois primeiros não senti nada de dor, mas o terceiro chegou avisando....parabens!!!!!

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