domingo, 7 de agosto de 2011

Mães têm direito a dois intervalos no trabalho para amamentar


Mulheres que amamentam perdem peso mais rápido e protegem a saúde dos filhos. Justiça do trabalho condenou empresa que negou direito a funcionária.

Essa história começa com uma criança saudável. Evelyn tinha 4 meses quando a mãe voltou ao trabalho. Iniciava então um sofrimento enorme para as duas.

“O dia inteiro sem dar a mama à minha filha. Sem poder dar de mamar e assim que ela foi ficando doente, mais ainda”, conta Marilda Conceição Nascimento, mãe de Evelyn.

A empresa de segurança onde Marilda trabalhava emprega sete mil pessoas. Quando ela voltou da licença-maternidade, perdeu o posto fixo de vigilante em um banco perto de casa. Marilda conta que era obrigada a trabalhar cada dia em um lugar diferente, inclusive em outras cidades, ficando assim, cada vez mais tempo longe da filha.

Eram entre 12 e 13 horas sem poder dar o peito. Por que, ao retornar ao trabalho, ela não voltou ao posto fixo antigo? “O empregado que se afasta do seu posto efetivo, ao retornar, não tem mais aquele posto. Já existe outro vigilante efetivo naquele lugar”, afirma Ricardo de Queiroz Duarte, advogado da empresa.

A menina foi adoecendo. Marilda conta que era chamada pra ver a filha na creche, mas não conseguia autorização para sair do trabalho.

“Uma das chamadas foi porque ela estava com febre, estava vomitando. Ela não comia nada, não aceitava. Este foi o dia ‘D’, que a gente mais chamou, mais pediu, mas realmente a mãe não teve como comparecer”, conta Márcia Rodrigues Cardoso, funcionária da creche.

Sobre o comportamento da empresa, o Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina concluiu. “Neste caso, eu entendo que ela agiu com assédio moral com a finalidade específica de obter da empregada um pedido de demissão”, afirma o juiz José Ernesto Manzi.

Evelyn teve uma infecção viral que atingiu o cérebro. Ao todo, 47 depois que a mãe voltou ao trabalho, ela morreu. “Embora não se possa afirmar que a empresa provocou a morte da criança, podemos afirmar que ela reduziu as possibilidades de ela viver”, acrescenta o juiz.

“Ela poderia ter maiores chances de sobrevivência, ou talvez nem tivesse contraído esta infecção, se estivesse ao lado da mãe, se estivesse em aleitamento materno”, explica o pediatra Thiago Demathé.

“Uma mãe que queria estar do lado da sua filha, pelo menos dando mama, cuidando dela. Eu não tive esta chance, esta oportunidade”, lamenta a mãe.

A empresa foi condenada, em segunda instância, a pagar uma indenização de R$ 100 mil. Para a Justiça, além do assédio moral, ela não cumpriu a lei que garante à mãe o direito de amamentar o filho durante a jornada de trabalho. O Fantástico reuniu em Florianópolis um grupo de mães para discutir os direitos das mães que trabalham durante o período de amamentação.

“Quando a gente dá o peito, a gente não está só dando comida. A gente está dando também amor”, opina a psicóloga Bárbara Marques Nunes.

Amamentar traz também vantagens para a saúde das mães. Diminui a chance de câncer de mama e de ovário, diabetes e infarto. Elas ainda perdem peso mais rápido.

Os pequenos ganham ainda mais. Crianças que mamam no peito recebem os anticorpos da mãe contra diarreia e infecções. Correm menos risco de ter meningite, alergias, colesterol alto, diabetes e obesidade. Respiram melhor e os dentes crescem mais fortes.

“O leite materno previne as principais doenças da infância: as viroses, as gripes e os resfriados. Nossa recomendação é amamentação exclusiva até o sexto mês e com outros alimentos até os 2 anos de idade”, orienta Helvécio Magalhães, secretário de atenção à saúde do Ministério da Saúde.

Por lei, as empresas precisam oferecer condições para as mães amamentarem. São dois intervalos de meia hora todos os dias até o bebê completar 6 meses.

“Não resolve o problema, porque no caso eu moro longe do serviço. Então até ir para casa, dar mamar e voltar dá muito mais de meia hora”, conta a vendedora Natali Mross.

“As empresas, e isso tem acontecido, podem flexibilizar isso de acordo com a distância da residência da mãe e com as condições da criança”, acrescenta Helvécio Magalhães.

Empresas com mais de 30 funcionárias têm que oferecer um local apropriado para amamentação. “Tem empresa que manda o funcionário ordenhar o leite ou amamentar no banheiro”, conta a psicóloga Carol Rutz Mick.

A atriz Juliana Paes é a estrela da campanha lançada pelo Ministério da Saúde para estimular o aleitamento materno. Ela é mãe de Pedro, de 8 meses. “Todo mundo comenta: ‘Nossa, ele é tão grande, ele é tão forte. É só leite de peito?’. Todo mundo pergunta. Só mamou no peito, 100%. Ele não sabe o que é outro tipo de leite”, conta a atriz.

“Eu sei que, com meu leite, minha filha tem muito mais chance de crescer feliz e saudável”, diz uma mãe.

fonte: Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário